terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

POLÍTICA DE TRABALHO PARA AS ENTIDADES ESTUDANTIS



por Roberto Leite

 CONCEPÇÃO DE ENTIDADE

                As entidades estudantis foram criadas pelos estudantes para representar e defender todas as suas aspirações,sejam elas cientifico-culturais, políticas, econômicas, esportivas, etc. Delas devem participar todos os estudantes, independente de suas concepções e interesses particulares, não podendo haver qualquer tipo de discriminação. Numa palavra, as entidades estudantis são todos os estudantes.
                É justamente nesta união de todos os estudantes que reside a força das entidades estudantis. Sendo assim, qualquer menosprezo por qualquer uma das aspirações mencionadas anteriormente diminui a abrangência de representação da entidade e, consequentemente, diminui também sua força.
                Para garantir que as entidades estudantis abranjam todos os estudantes e represente os interesses dos mesmos é necessário que somente os estudantes definam os rumos que suas entidades devem tomar e que estas estejam ligadas somente a outras organizações estudantis com o mesmo caráter. Chamamos a isso deindependência das entidades.
                Quando isso não ocorre dizemos que a entidade é atrelada,a o que resulta geralmente na intervenção de instituições ligadas ao Estado dos destinos da entidade. O  baixo índice de sindicalização dos trabalhadores em nosso país deve-se em grande parte ao atrelamento dos sindicatos ao ministério do trabalho, o que gera o descrédito nestes.
                Resguardar a independência das entidades não significa, no entanto, adotar uma postura corpoativista, isto é, de isolamento em relação a outras entidades e ter a ilusão de que os estudantes isolados de outras categorias e do movimento popular, possam resolver sozinhos os seus problema. Ao contrário, o que se coloca hoje para o movimento estudantil é ampliar o apoio popular para fazer avançar a luta por uma nova universidade. Deve-se ter uma compreensão clara de que as entidades estudantis são entidades de massa. Delas participam todas as correntes de opinião e pensamento, não podendo, no entanto, a entidade estudantil vir a ser confundida com nenhuma delas. As partidarização das entidades de massa leva inevitavelmente ao enfraquecimento das mesmas e à desastrosa divisão do movimento. A concepção de que a força das entidades estudantis resida na união de todos os estudantes deve nos levar no combate intransigente à partidarização das mesmas e nos colocar na linha de frente da defesa das instâncias unitárias de deliberação do movimento e o conseqüente combate a quaisquer tentativas de promover a divisão deste.

PATERNALISMOS

                É fundamental que uma diretoria seja aplicada nas atividades da entidade. Porém, é necessário que este esforço seja canalizado corretamente. É importante que se tenha sempre em mente a necessidade de se incorporar o maior número possível de estudantes na elaboração e execução das atividades da entidade. O paternalismo caracteriza-se pela substituição do conjunto dos estudantes em suas lutas e atividades. No fundo, reflete uma subestimação da capacidade dos estudantes em crescerem em mobilização, organização e consciência ou a vontade explícita de não mobilizar a categoria. O paternismo deve ser combatido, pois fera o assistencialismo, vela a crer que a entidade reduz-se à sua diretoria e em nada contribui para elevar o nível de mobilização, organização e consciência dos estudantes. Enfim, leva à estagnação da entidade, não gerando novas pessoas dispostas a participar.

AMADORISMO

                O trabalho de uma diretoria não pode ser levado como algo sem muita importância. Ao contrário, trata-se de um compromisso assumido com os estudantes e com o movimento popular em geral. Portanto, deve ser conduzido com o máximo de responsabilidade. Não basta também que se tenham as propostas mais conseqüentes para o movimento. É necessário que a responsabilidade política tenha o seu correspondente organizativo.
                Sendo assim, a diretoria e suas secretaria devem ter suas reuniões fixadas, suas deliberações registradas, as atividades da entidade documentadas e, no final da gestão, deve ser feita uma prestação de contas das atividades e das finanças desenvolvidas.

TENDÊNCIAS DO M.E  E TRABALHO NAS ENTIDADES

                É natural que existam tendências que atuem no movimento estudantil. A existência das mesmas evidencia o grau de politização dos estudantes, a consciência de que é necessário se organizar também politicamente e não apenas em entidades de categoria. O combate a existência das tendências seja de onde partir, interessa as que não querem ver o nosso povo organizado em nível superior, isto é, a nível político. Aqui deve-se fazer uma diferenciação entre o combate à existência das tendências, que é na sua essência reacionário, e justo combate à prática de determinadas tendências nas entidades. No último caso queremos nos referir aqueles que utilizam a entidade como sendo propriedade de sua corrente política, isto é “aparelham” a entidade. Esta prática é nociva no movimento, esvazia a entidade e, portanto, deve ser combatida. Enquadram-se também nesse caso aqueles que para beneficiarem, desrespeitam as Instâncias democráticas e unitárias do movimento.

DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO NAS ENTIDADES

                O M.E tem se caracterizado, em geral, pelo cupulismo. Só podemos superar esta situação se tivermos sempre em mente no trabalho da entidade a necessidade permanente de elevar e ampliar os níveis de democracia e participação. Ambas constituem elementos fundamentais de implantação e consolidação do M.E. A eficiência por si só não consolida o trabalho. Nesse sentido, seguem-se algumas considerações.

CONSELHOS DE REPRESENTANTES DE TURMA

                A Reforma universitária de 68 trouxe consigo, através da implantação do sistemas de créditos, a dispersão das turmas nas universidades. A partir de então, as turmas não permaneceram as mesmas todo o curso, e que é mais grave, não são formadas por alunos de um mesmo curso. Não é difícil perceber  que, anteriormente, com turmas fixas e de um mesmo grupo, a coesão dos estudantes era mais fácil de se conseguir e, consequentemente mais fácil também era a sua organização e mobilização. É necessário ainda fazer uma diferenciação importante, que muitas vezes não se compreende: diretoria e entidade. A diretoria é apenas um dos fóruns de deliberação e representação da entidade, tendo atribuições limitadas no que diz respeito à condição do movimento. A confusão entre uma coisa e outra, seja de onde partir, conduz no enfraquecimento da entidade.

O PAPEL CENTRAL DAS ENTIDADES ESTUDANTIS

                As entidades estudantis devem desenvolver uma série de atividades. Todas elas com o intuito de organizar e conscientizar os estudantes para a luta em torno de seus problemas mais sentidos. É fundamentalmente na luta que se consegue estes objetivos. As outras atividades ajudam a elevar o nível de consciência e organização , daí a necessidade de não serem menosprezadas. Porém, é na luta que se tem demonstração da prática do nível  de consciência e organização, e ao mesmo tempo, é o que mais contribui para conscientizar e organizar. É a única atividade capaz de aglutinar as atenções de toda categoria, pois toca nos seus interesses mais sentidos, que dizem respeito a todos e não apenas a uma parcela. Pensar que somente através de promoções se fortalece a entidade, ou que isto deva ser o papel central de uma entidade é um grave erro. Leva ao abandono dos interesses fundamentais dos estudantes, desacreditando a entidade.

LUTAS GERAIS E LUTAS ESPECÍFICAS

                Duas posturas têm freqüentemente levado no enfraquecimento das entidades estudantis. Em geral, uma surge com a reação à outra. A primeira é fazer com que a entidade coloque todas as suas atividades e propagandas em função de lutas de caráter eminentemente político. Esta postura, além de desconhecer a diferença entre uma entidade de categoria e um partido político, é fruto de uma concepção Vanguardista, na qual o movimento estudantil seria o ponto de lança das lutas pelas transformações sociais. A segunda, não menos equivocada, reduz o trabalho da entidade às atividades das secretarias e apenas às lutas específicas dos estudantes. Este tipo de postura não leva em consideração as relações existentes entre os problemas específicos e gerais da sociedade, conduz ao corporativismo, a aversão à política e não possibilita a elevação do nível de consciência dos estudante. Enfim, desarma os estudantes na luta em torno dos seus problemas mais sentidos e não coloca o movimento estudantil como um aliado do movimento operário e popular na luta pela transformação da sociedade. Conforme concluímos anteriormente, o papel central das entidades estudantis, assim como todas as entidades de categoria é a luta em torno dos problemas mais sentidos na categoria, no caso as lutas educacionais. Somente esta concepção, aliada a uma justa compreensão do inter-relacionamento profundo existente entre os problemas específico e gerais, é capaz de colocar o movimento estudantil como um aliado conseqüente do movimento operário e popular.

MÉTODO DE TRABALHO NAS ENTIDADES

                O planejamento e controle das atividades de uma entidade permitem reduzir ao mínimo os elementos de espontaneísmo e acaso, bom como determinar e corrigir a tempo as deficiências e erros que porventura venham acontecer. O trabalho da entidade não pode ficar o tempo todo a reboque dos aconteceimentos para que possamos intervir corretamente nos mesmos e não sermos surpreendidos.
                O programa das chapas não deve ser visto como uma mera exigência burocrática de estatutos ou simples propaganda. Ao contrário, é ele o plano global de uma gestão, devendo conter claramente os objetivos fundamentais da mesma, sendo o guia de orientação de todas as atividades da entidade. Portanto, a elaboração do programa e sua execução devem merecer o máximo de atenção. A planificação é inseparável do controle, através do qual acompanhamos a execução das tarefas em curso, corrige-se a tempo os erros cometidos, leva-se em conta os novos elementos que possam surgir. Sem controle, a planificação não tem sentido.
                Em que pesem as dificuldades geradas pela R.U., as turmas constituem o núcleo fundamental de implantação e consolidação do movimento estudantil. É nelas que transcorre a maior parte da vida universitária. Por isso, uma justa política para o M.E. não pode deixar de levar em conta a importância de se implantar e fortalecer os CORETURs. O CORETUR permite que o M.E. com toda sua dinâmica característica, tenha uma maior estabilidade. Incentiva o surgimento e fortalecimento de lideranças de sala de aula, permitindo uma renovação permanente das diretorias das entidades, evitando a eternização de pessoas no movimento por falta de outras novas que assumam o trabalho. O CORETUR também funciona como um “termômetro” do grau de disposição dos estudantes para a luta ou atividades, auxilia na determinação dos problemas mais sentidos dos estudantes. É, portanto um elo dinâmico de ligação entre diretoria e turmas. O CORETUR é também uma instância democrática das entidades que, embora sendo menos representativo que a Assembléia, é mais ágil que esta e mais representativo que a diretoria. É deste modo um instrumento precioso para corrigir o erro do “assembléismo” ou da concentração de todas as decisões nas mãos das diretorias. Em geral, as entidades estudantis têm caído num ou noutro pólo. Por fim, é preciso que o CORETUR não seja visto como algo meramente burocrático ou para executar tarefa sugerida pela diretoria. Para que ele tenha sentido de existir e não se desestruture, é necessário que exerça como equidadade e plenitude todas as suas funções –: consultiva, deliberativa e fiscalizadora.

DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES

                Embora a luta em torno dos problemas mais sentidos dos estudantes seja o papel central das entidades estudantis e a atividades que consegue aglutinar a grande maioria dos estudantes nem sempre é ela quem atrai inicialmente parcela dos estudantes para o reconhecimento e participação no movimento estudantil. Atividades artísticas, culturais, científicas, esportivas e sociais constituem parcela significativa na ampliação da representatividade das entidades estudantis. Mais do que isto, contribuem decisivamente para elevar o nível de consciência  e organização dos estudantes, preparando-os para suas lutas. Portanto, qualquer menosprezo na condução dessas atividades significa uma menor participação dos estudantes, e consequentemente, o enfraquecimento da entidade. As iniciativas espontâneas dos estudantes nesse campo não podem ser encaradas como uma atividade divisionista ou paralela à entidade, principalmente quando o M. E. pouco ou quase nada tem-se preocupado ou feito a esse respeito. Ao contrário, a postura correta nesse caso é colocar o apoio efetivo da entidade no que está desenvolvido.
                Somente a realização dessas atividades, porém, não basta. É inegável a contribuição que a juventude tem dado ao desenvolvimento da arte, da ciência e do esporte em nosso país. No entanto, quanto potencial neste campo está ainda por ser desenvolvido. É tarefa urgente para o M.E. a elaboração de uma política para a cultura, arte, a pesquisa científica e o esporte para a juventude estudantil. Só assim estaremos colocando no devido nível de importância estas atividades.

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